Falta de carisma não impediu que presidente alcançasse popularidade recorde logo no início
Em cem dias, Dilma descola imagem de Lula e adota novo estilo de governo
Pesquisa Datafolha divulgada em março mostrou Dilma com 47% de aprovação em seu terceiro mês no mandato. O índice é maior do que o obtido pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em março de 2003, em seu primeiro mandato, quando ele tinha 43% de aprovação. No Ibope, a aprovação da primeira presidente mulher foi ainda maior, chegou a 53%.
O economista e ministro da Fazenda durante o período militar Delfim Netto avalia que, apesar de Lula ter sido um presidente muito popular, Dilma não deve encontrar problemas para também conquistar a mesma aprovação.
- A impressão é que o Lula foi um excepcional presidente, mas não está deixando muita saudade.
Uma das teses para esse sucesso inicial da nova presidente, segundo o ex-ministro dos militares, é que Dilma, com seu estilo mais técnico e menos político, conquista a aprovação de um setor da sociedade que Lula não conseguia atingir.
- Contra o Lula existia uma resistência física de parte da população. Era um presidente baixinho, que não tinha um dedo, mas isso foi sendo dissolvido. A Dilma é uma tecnocrata, leu os livros que economistas leram. Se você marca uma audiência com ela para falar de cana-de-açúcar, na noite anterior ela vai passar lendo sobre o assunto para falar com você.
À sombra de Lula
Também motivo para críticas durante a campanha, o temor de que Lula fizesse do governo Dilma uma espécie de seu terceiro mandato foi praticamente dissolvido. Segundo o sociólogo Paulo Delgado (PT), que foi deputado federal por vinte anos (1986-2006), a independência que Dilma demonstra em relação a Lula tem sido, inclusive, motivo para intrigas.
- Havia uma preocupação sobre a lealdade da Dilma com relação a Lula, mas ela não está subjugada. E, justamente, agora há uma tentativa de intrigar a relação.
Delgado lembra que o estilo de Dilma governar contrasta com a forma que Lula conduziu o país nos últimos oito anos e traz uma nova forma de gestão.
- Eu vejo paradigmas com relação a outros governos pelo mundo. A característica atual dos governantes é ter preferência pela chefia do Estado do que questões de governo. Ela vem mostrando um gosto pelas questões administrativas, mais do que pelas questões de Estado.
O deputado da oposição, Duarte Nogueira (PSDB-SP), discorda e afirma que a influência do presidente pode não ser física, mas muitos dos que fizeram parte da gestão de Lula estão no governo de Dilma.
- O Lula não vai ser uma sombra, ele tem sido um fantasma.
Em seu esperado discurso no Senado, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) lembrou na semana passada que os cem dias de Dilma, na verdade, servem apenas como marca para um período de quase nove anos de governo petista.
- Ainda que seja nítido e louvável o esforço da nova presidente em impor personalidade própria ao seu governo, tem prevalecido a lógica dominante em todo esse período e suas heranças. Não há ruptura entre o velho e o novo, mas o continuísmo das graves contradições dos últimos anos.
Ainda que seja difícil estimar a dimensão da influência de Lula no novo governo, Dilma e o ex-presidente já se encontraram diversas vezes desde janeiro. Lula evita dar opiniões sobre o novo governo, mas não esconde sua vontade de voltar a participar ativamente da política após um período de “quarentena”.
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