Arenápolis News - www.arenapolisnews.com.br
Nacional
Sexta - 19 de Dezembro de 2014 às 20:41
Por: *JOSÉ ANTONIO LEMOS DOS SANTOS

    Imprimir


Se você foi aluno do professor Geraldo José Lima, na antiga Escola Técnica Federal de Química, atual Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, nos últimos 20 anos, deve se lembrar de uma tarefa especial que o mestre designava aos jovens no final do curso: escrever uma carta endereçada a si mesmo, para ser lida no futuro. A missão de fazer a correspondência voltar para as mãos do dono ficava a cargo de Geraldo.

Mas a promessa do professor, conhecido pelos alunos pela simpatia, atenção e gentileza com que lecionava, foi interrompida em outubro deste ano, quando Geraldo teve um infarto fulminante. Praticante e estudioso de yoga, meditação, filsofia, ele também tinha tempo de trabalhar em indústrias químicas e exercer sua maior paixão: a Educação. Este ano, preparava-se para assumir a direção de um novo campus do IFRJ, em Resende, no interior do Rio, quando seu coração parou de bater.

— Crescemos com meu pai falando dessas cartas, ele sempre foi uma pessoa de escrever cartas. Sempre escreveu cartas para a gente, com o tempo, passou a escrever por email, Facebook. Falava todos os dias com meu pai. Até que recebi uma mensagem na madrugada. Sempre temia isso, essa ligação de madrugada — relembra Danielle de Souza Lima, de 33 anos, há cinco morando na Austrália.

Na página criada pelas filhas de Geraldo, alunos relembram com carinho do mestre
Na página criada pelas filhas de Geraldo, alunos relembram com carinho do mestre Foto: Reprodução/Facebook

No momento do luto, uma descoberta das irmãs fez com que nascesse a vontade de encarar a saudade de outra maneira. Na mochila que o professor usava no dia em morreu, elas encontraram 130 cartas, endereçadas a ex-alunos do pai. Foi então que o legado de amor deixado por Geraldo virou o projeto de vida de Danielle e sua irmã, Michelle, que desde então procuram na internet pelos destinatários da correspondência.

— Quando cheguei ao Brasil, vi a mochila que ele estava usando no dia em que faleceu. Minha irmã me esperou para a gente abrir junto. Dentro, tinha um saco plástico com esse bolo de cartas. Começamos a chorar muito: eram as cartas que ele sempre falou. Não sei o que ele ia fazer com as cartas naquele dia, se ia pôr nos Correios. Mas nos deixou muito mexida o fato de as cartas estarem na mochila no dia que ele faleceu. Pensei: “Nossa, por que estamos cruzando com essas cartas?”. Acho que têm pessoas que deixam heranças. Meu pai deixou um legado para nós. E agora, por alguma razão, temos que encontrar essas pessoas. Sempre trabalhei com pesquisa e memória. Esse é o grande projeto da minha vida — declaram, emocionada, a filha.

Depois de 26 anos, Milene recebeu a cartinha escrita aos 21
Depois de 26 anos, Milene recebeu a cartinha escrita aos 21 Foto: Reprodução/Facebook

Graças ao esforço das herdeiras de Geraldo, lembranças emocionantes da juventude de Milene Fernandes, de 46 anos, voltaram à tona. Formada em 1988 na escola, ela lembra com carinho das aulas do professor. E conta que não esperava mais receber as cartas, quando recebeu uma mensagem de Danielle pelo Facebook.

— Essa história é muito linda. Quando vi essa carta, fiquei muito feliz. Foi maravilhoso relembrar. Tive um trauma muito grande na época da escola, quando perdi meu pai, então foi muito emocionante saber do que a Dani estava fazendo. É uma grande herança — emociona-se Milene.

Geraldo fez o ritual das cartas por mais de 20 anos
Geraldo fez o ritual das cartas por mais de 20 anos Foto: Reprodução/Facebook

Recuperando-se de um momento delicado de saúde, ela conta ainda que tem estudado Fotografia justamente como esforço para preservar memórias. A carta da jovem Milene voltou às mãos da mulher atual na hora certa.

— Recebi a carta na semana passada. É incrível, lembrei exatamente do dia em que o professor pediu para que a gente escrevesse. Estávamos muito felizes, era final do curso. Era tudo que eu queria. Relendo, vi que mencionei na cartinha as pessas mais importantes para mim. As memórias precisam ser revistas para serem preservadas. E a carta é uma coisa maravilhosa, rever a sua letra, os seus pensamentos. Foi o maior presente de papai noel que eu poderia receber.

Ex-aluna recebeu a carta no momento certo: 'Foi maravilhoso'
Ex-aluna recebeu a carta no momento certo: 'Foi maravilhoso' Foto: Reprodução/Facebook

Dani e Michele continuam na busca pelos ex-alunos do professor Geraldo na página “Cartas do meu pai”, no Facebook. Mais de 200 pessoas já curtiram e algumas deixam mensagens de afeto, com esperança de estar na lista das 130 cartas encontradas pelas irmãs. Graças à entrega das filhas, a memória do mestre vai continuar viva.





Fonte: Extra Online

Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://www.arenapolisnews.com.br/noticia/99304/visualizar/