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Cidades
Sábado - 02 de Maio de 2015 às 09:26
Por: *JOSÉ ANTONIO LEMOS DOS SANTOS

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Durante todo ano de 2014, o Ministério Público do Trabalho (MPT) registrou 113 denúncias referentes a ssédio moral e motivos de discriminação no ambiente de trabalho em Mato Grosso. Destas, apenas duas envolviam discriminação por gênero, o que é visto tanto pelo MPT, quanto pelas instituições de defesa dos direitos das mulheres com grande preocupação, uma vez que é nítida a desigualdade existente no mercado de trabalho, que vitimiza, especialmente, as mulheres. Medo de denunciar e dificuldade de comprovar a discriminação são apontados como alguns dos fatores que podem explicar o baixo índice de denúncias.

Ontem foi comemorado o Dia Nacional da Mulher e muitas comemoram com orgulho, nesta sexta-feira (1º), o Dia do Trabalhado. Porém, a alegria de estar empregada não é motivo de comemoração para tantas outras mulheres, que acabam vendo no emprego tão desejado, um pesadelo. Como é o caso da administradora Maria Inês Fonseca, 48, que após conseguir o cargo de chefia dentro da empresa em que trabalhava há 15 anos, passou a viver os piores dias de sua vida. “Tinha um colega de trabalho que ocupava a mesma função que eu e estava na empresa há mais tempo. Quando fui promovida, passei a ser a chefe dele e isso parece que o incomodou muito. Ele fazia piadinhas o tempo todo de mim, me perseguia de todas as formas dentro e fora do trabalho”.

No início, Maria Inês disse que pensou ser coisa da cabeça dela e se negava a acreditar que o homem com quem ela trabalhou durante tantos anos, tinha se tornado seu inimigo. “Nos dávamos muito bem, por isso, decidi dar um tempo para ver se o clima pesado passava. Mas as coisas pioraram ao ponto de ele me ameaçar de morte, caso eu não pedisse demissão”.

Maria Inês não pediu demissão, mas comunicou o ocorrido para os proprietários da empresa e foi aí sua maior decepção. “Meu chefe me disse que se eu que realmente desejava ficar no cargo, que geralmente é ocupado por homens, teria que me acostumar com as piadinhas e perseguições”.

A administradora entrou em depressão, estado em que ficou por cerca de seis meses. Após esse período, com a ajuda da família e seu psicólogo, ela realizou uma denúncia ao Ministério do Trabalho e entrou com uma ação Judicial contra o colega e o seu chefe. Atualmente, Maria Inês está desempregada e diz que tem medo de voltar ao mercado de trabalho.

Presidente da Comissão de Direito da Mulher da Ordem dos Advogados de Mato Grosso (OAB), Juliana Moura Nogueira diz que nem todas as mulheres têm a mesma coragem que Maria Inês e, por isso, dados referentes aos atendimentos em casos como o relato anterior são considerados defasados. “Mulheres são vistas como alvo fácil pela sociedade em geral e estão constantemente suscetíveis a todo tipo de violência e em todos os ambientes, inclusive, no de trabalho. A maioria das vítimas não procura ajuda, seja por medo ou por falta de informação”.

Com o objetivo de reduzir a discriminação no ambiente de trabalho envolvendo mulheres, a referida Comissão, juntamente com a OABMT Mulher e a Comissão de Direito do Trabalho, aderiu à campanha desenvolvida pela BPW Cuiabá, intitulada “Trabalho igual, salário igual”. Através dessa ação, são desenvolvidas atividades para chamar a atenção do governo, da sociedade e dos empregadores, para por fim à discriminação contra as mulheres. Vice-presidente da OABMT, Claúdia Aquino de Oliveira fala que a divisão sexual do trabalho teve início na revolução industrial, quando as mulheres já enfrentavam duplo preconceito no ambiente de trabalho, o biológico e o social, já que o trabalho feminino era visto como inferior ao masculino, portanto, de menor valor.

Claúdia avalia que, atualmente, existem mulheres muito mais capacitadas do que homens para exercer diversas funções e, por isso, a luta pelos direitos iguais entre os gêneros deve continuar. “Todas as convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT), desde sua origem, têm como intuito promover a igualdade de condições de trabalho em todo o planeta como forma de diminuir as diferenças socioeconômicas existentes no mundo”.

Presidente do Conselho Estadual de Direitos da Mulher, a defensora pública Rosana Leite Antunes de Barros acredita que o problema da inferiorização da mulher esteja ligado à questão sociocultural. “Esse problema se arrasta por muito tempo e por falta de políticas públicas voltadas ao combate de discriminação envolvendo mulheres, crianças já crescem estabelecendo uma diferença entre os sexos que não deveria existir”. Ela cita como exemplo o fato de mulheres ocuparem os cargos estereotipados masculinos, mesmo ganhando menos, ainda incomodar muitas pessoas.

Motorista de ônibus do transporte público, Alizângela de Souza, 35, sabe bem o que é passar por situações constrangedoras por exercer uma profissão que até pouco tempo era realizada apenas por homens. Há 12 anos ela trabalha em uma empresa de transporte coletivo, e destes, quatro são como motorista. “Atuei durante oito anos como cobradora e acompanhando o trabalho dos motoristas me senti motivada a fazer o mesmo. Apesar da minha família e a maioria dos colegas de trabalho terem me apoiado, passei por situações muito chatas até ser aceita na profissão”.

Alizângela explica que após conseguir o acréscimo da categoria que permite a condução de ônibus na Carteira Nacional de Habilitação (CNH), ainda existe uma etapa que deve ser realizada antes de conduzir passageiros. “Chamada de Manobra, que é o serviço o qual realizei durante um ano e três meses e consistia em dirigir os ônibus dentro do pátio onde eles ficam estacionados, para levar até os motoristas na entrada da garagem, para lavar ou até mesmo para passar por vistoria mecânica”.

Como estava recente na profissão, a motorista demorava para exercer algumas funções e sempre escutava piadinhas do tipo, “tinha que ser mulher” ou “isso é serviço para homem”. Ela diz que o uniforme também colaborava para que as pessoas a olhassem de maneira desconfiada. “Eu usava um macacão que me cobria dos pés à cabeça, luvas e botinas, o que me deixava bem masculina, e por isso, as próprias mulheres me olhavam desconfiadas. Cheguei até a emagrecer, porque o trabalho era árduo e não me permitia parar um instante. Mas sabia que era capaz e consegui”.

Alizângela conta que hoje é vista com outros olhos pelos colegas de profissão e passageiros. “Todos me elogiam e me apoiam. Tem passageiros que fazem questão de andar comigo. Estou até engordando, porque sempre tem os que me trazem lanches. Enfim, amo o que faço”.





Fonte: A Gazeta

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