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Opinião
Segunda - 20 de Junho de 2011 às 08:40
Por: Vinicius de Carvalho

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Continuo a série de artigos sobre a formação do Partido Social Democrático (PSD). Vamos a mais algumas razões.

1. Fadiga do sistema partidário - Os sistemas partidários no Brasil republicano apresentam pouca durabilidade histórica. A experiência partidária até hoje mais duradoura foi aquela de 1945-1965, liderada por PSD, UDN e PTB. São partidos que marcaram as elites políticas e que ainda possuem alguma identidade, sempre ameaçando retornar. O PTB foi recriado em 1980 e acabou incorporando o novo PSD em 2003. A União Democrática Ruralista (UDR) foi reativada em 1996 e lembra a velha UDN.

2. Bipolarização PT-PSDB - Muitos analistas entendem que a bipolarização entre PT e PSDB nas eleições presidenciais, que já dura quase vinte anos, tornou-se artificial e pouco representativa da diversidade política existente no país.

Ao analisar os dados das últimas cinco eleições presidenciais, é possível observar que PT e PSDB apresentaram uma média de 40% cada dos votos válidos no 1° turno, enquanto os demais candidatos tiveram cerca de 20%. A média do segundo colocado ficou em cerca de 30% e do primeiro em 50%. Os demais candidatos chegaram a 30,4% em 2002, quando Ciro Gomes e Anthony Garotinho concorreram. Com a votação expressiva apresentada pela Senadora Marina Silva em 2010, este eleitorado ansioso por uma “terceira via” ficou mais evidente.

Ciro Gomes e Anthony Garotinho não conseguiram polarizá-lo de modo mais orgânico, porque são ambos personalistas, com passagem por diversos partidos e dificuldades de se consolidar. Basta lembrar que Garotinho se filiou a quatro partidos nos últimos 12 anos e Ciro Gomes a 3 e fala em criar um novo. Um partido mais organizado, capilarizado nos Estados e municípios e com quadros mais fortes poderia atrair este eleitorado e, eventualmente, até disputar o 2° turno.

Este “bipartidarismo” incomoda as elites políticas, que gostam de maior liberdade para compor suas alianças. Ao ser perguntado sobre o posicionamento do novo PSD, Gilberto Kassab tem reafirmado a sua independência. Sua postura lembra as discussões na reforma eleitoral de 1979, quando foi criado o Partido Popular (PP) pelos Senadores Tancredo Neves e Magalhães Pinto. Foram cogitados os nomes “partido social independente” ou “partido democrático independente” na época, para prover uma alternativa segura para a transição democrática, reunindo dissidentes de Arena e MDB.

Portanto, a independência estratégica é verdadeira, a despeito das críticas de parte da imprensa pela imprecisão ideológica. Quer dizer, o objetivo do novo PSD seria exatamente contribuir para a governabilidade, despolarizar o sistema partidário e criar uma “terceira via”, ainda que celebre acordos táticos.

O PSD vem reunindo quadros de expressão política para se tornar alternativa neste eixo de centro-direita, tais como Gilberto Kassab, o Governador Raimundo Colombo (SC) e a Senadora Kátia Abreu (TO), que perceberam a estrutura de poder oligarquizada do Democratas e seu declínio. Kátia Abreu pode aproveitar a condição de Presidente da CNA, o momento de ascensão feminina na política, o fortalecimento do agronegócio e a demanda por novos candidatos para concorrer à Presidência em 2014.

Ela foi cogitada como candidata a vice de José Serra em 2010 e talvez possa se transformar numa “Marina Silva da direita”, empunhando tradicionais bandeiras do campo conservador, como a redução do Estado e a defesa patronal do agronegócio em face dos movimentos distributivistas, como a criação de terras indígenas, unidades de conservação, restrições à produção agropecuária e a própria reforma agrária.

No próximo artigo, veremos como a resolução 22.610/2007 do TSE, que dificulta a troca de partido, está influenciando na formação do PSD. Confira aqui e aqui os últimos dois artigos acerca do novo PSD.

   Vinicius de Carvalho Araújo é gestor governamental em Mato Grosso, mestre em História, professor universitário e escreve exclusivamente para este blog às segundas-feiras - www.professorvinicius.com.br



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