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Opinião
Terça - 24 de Abril de 2012 às 23:02
Por: Patricia Furtado

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O Odin Teatret, grupo dinamarquês fundado por Eugênio Barba em 1964, chegou ao Brasil pela primeira vez em 1978, quando os atores Roberta Carreri e Francis Pardeilhan passaram dois meses em Salvador estudando capoeira e dança dos orixás, convidados pelo Grupo Teatro Livre da Bahia.

De lá para cá, as trocas entre o Odin Teatret e vários artistas brasileiros só fez aumentar, em quantidade e constância ao longo desses 34 anos. Luís Otávio Burnier (1956-1995), ator e fundador do Lume Teatro, Paulo Dourado, diretor teatral e professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Aderbal Freire Filho, ator e diretor teatral residente no Rio de Janeiro, e Nitis Jacon, que por muitos anos dirigiu o Festival de Teatro de Londrina, o FILO, foram os responsáveis pelas primeiras turnês do grupo no Brasil, que incluíam espetáculos coletivos e individuais, demonstrações de trabalho, teatro de rua, palestras, oficinas, encontros com estudantes e grupos de teatro etc.

Inicialmente, foi através da prática, da transmissão oral e direta, que os princípios da antropologia teatral, pilares da tradição do Odin Teatret, foram entranhando na cultura de muitos grupos teatrais brasileiros, sobretudo após a primeira vinda de Barba ao nosso país, em 1978, e à intensificação das turnês do grupo por aqui.

Em 1991, foi publicado o primeiro livro de Eugênio Barba em português, Além das Ilhas Flutuantes, com tradução de Luís Otávio Burnier. Desde então, foram lançados no Brasil vários outros livros de Barba, assim como das atrizes Júlia Varley e Roberta Carreri. Até o final do ano, a Editora É Realizações publicará uma nova edição – atualizada e ampliada – do famoso e já esgotado A Arte Secreta do Ator: um Dicionário de Antropologia Teatral. Todos esses livros constituem uma referência fundamental nas bibliografias de inúmeras teses de Pós-Graduação em Artes Cênicas de nosso país, especialmente quando o assunto é o trabalho do ator e do dançarino.

Hoje, muitos são os artistas brasileiros que reconhecem a fundamental influência do Odin sobre sua trajetória pessoal ou sobre a cultura, a prática e a poética de seu grupo de teatro. Influência que pode ter se dado seja pelo contato direto seja através dos livros do grupo, muitas vezes de um e de outro. Também é importante recordar a contribuição essencial do ator dançarino baiano Augusto Omolú nas sessões internacionais da ISTA, assim como sua participação em diferentes demonstrações de trabalho e espetáculos dirigidos por Eugênio Barba desde 1994.

Até abril de 2012, diversas turnês do grupo percorreram 25 cidades distribuídas em 14 Estados do país, sendo que grande parte das atividades ocupou predominantemente as regiões Nordeste, Sul e Sudeste. Só no Estado de São Paulo o Odin contabiliza 39 presenças. Ao todo, no Brasil, o teatro laboratório escandinavo apresentou 15 diferentes espetáculos e 10 distintas demonstrações de trabalho. Eugênio Barba já conduziu cerca de 33 palestras, 14 seminários e 12 encontros “informais” com estudantes, atores e grupos de teatro.

Os atores do Odin já ministraram mais de 55 oficinas no país e também conduziram, por sua vez, mais palestras, seminários e encontros. De todos os países da América Latina, o Brasil é aquele em que o grupo dinamarquês esteve mais vezes: somente aqui (Londrina, 1994) foi realizada uma ISTA (International School of Theatre Anthropology) e em nenhum outro país latino-americano foi organizado um Odin Festival (Rio de Janeiro, 2006) com mês integral de atividades ininterruptas abertas ao público.

A história do Odin Teatret no Mato Grosso está apenas começando. Alguns integrantes do grupo já visitaram terras pantaneiras a passeio, e vários estudantes e artistas da região já participaram de encontros com o Odin em outros estados do Brasil e até em Holstebro, na Dinamarca.
Mas esta é a primeira vez em que se criam as condições para que se realize um verdadeiro encontro do Odin com espectadores mato-grossenses em uma de suas cidades. É graças ao esforço conjunto da Companhia Pessoal de Teatro, do SESI/FIEMT, do Sesc (Unidade Regional Mato Grosso), da Secretaria de Estado de Cultura (SEC) e da Secretaria Municipal de Cultura (SMC) que Cuiabá recebe agora dois atores históricos do Odin Teatret: Roberta Carreri e Jan Ferslev. Desta vez, o encontro será breve, mas fundamental pelo que simboliza, sobretudo em um contexto cultural que está criando as bases para ser um importante polo do “pensar e fazer teatro” na região.

A história do Odin Teatret em nosso país é longa e sólida. É uma história de relações profissionais e pessoais que tem suas raízes na necessidade e na vontade de aprofundar o conhecimento sobre o ofício do ator e o artesanato teatral como um todo, mas, também, no desejo de fazer do teatro um lugar de partilha de valores e visões de mundo, independentemente da geografia e dos anos que passam.  A história do Odin Teatret em nosso país já atravessa fronteiras e gerações, e continuará atravessando.


* Patricia Furtado de Mendonça
é atriz, professora, tradutora e consultora de projetos teatrais. Mestre em Teatro pela UNIRIO e graduada em “Disciplinas das Artes, da Música e do Espetáculo” pela Universidade de Bolonha (Itália). Em 1998, a convite de Eugênio Barba, passa a traduzir seus livros do italiano ao português. Atualmente, conduz uma pesquisa sistemática sobre a relação do Odin Teatret com o Brasil, colaborando com as investigações do Centre of Theatre Laboratory Studies (CTLS) e do Odin Teatret Archives (OTA), Dinamarca.



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