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Um Espaço Que Era Público
A praça, para os antigos gregos, simbolizava a própria cidade. Pois era nela que as atividades se desenvolviam. Atividades que faziam os nascidos em Atenas e filhos de atenienses vivenciarem e participarem da vida pública. Importância que diminuiu com o tempo e os lugares vividos. Mesmo assim, era e é possível percebê-la como manifestação de espacialidade urbana, e que ganhou contorno e modelo ditados pelos grandes centros, tal como o europeu, e particularmente o parisiense, que substituiu o vazio em espaços ajardinados. Isto ocorria muitas vezes em função da valorização de edifícios institucionais. Cenários de embelezamento da cidade. Ainda que reduzidos de seu papel de espaço de lazer contemplativo, de recreação esportiva, de passagem, de convívio, de lazer cultural, enfraquecendo seu caráter político, a despeito da existência de um ou outro movimento que a teve como palco.
Isso, talvez, tenha se dado igualmente no instante em que aumentaram o número de praças. Aumento, contudo, desacompanhado do cuidado com a limpeza e a preservação do ambiente. Em Cuiabá, por exemplo, é comum encontrar vários destes espaços completamente abandonados. Este é o caso, por exemplo, da praça “Alex de Moura Bouret”, no Jardim Petrópolis, que foi toda reformada em 2009. Hoje, porém, inexiste qualquer sinal da tal reforma. Até outro dia, aliás, duas ou três pessoas faziam de um de seus cantos, oposto a Igreja, de dormitório. Fazia porque, dias destes, servidores realizaram uma faxina ali. Removeram o mato e os bagulhos que eram usados de cama. O curioso é que a tal faxina só foi efetuada no dito canto, enquanto o lixo toma conta dos demais, tendo como adorno o matagal que dá para ser visto de longe.
A limpeza iniciada, então, tinha um único propósito. Alcançado, perdeu a necessidade de realizá-la por completa. Por isso, até ontem, o bagulho e folhas secas – retiradas do lugar onde encontravam as pessoas - continuam ali amontoadas.
Entende-se que praça alguma não deva servir de moradia. Mas como, então, explicar e justificar o loteamento delas por parte de quiosques ou boteco de cachorro quente? A praça “Bouret” não é a única nessa situação. Além dela, outras tantas se vêem invadidas por particulares, muitos dos quais se gabam de possuir o aval de políticos influentes, e que, por conta disso, se mantém nas áreas públicas anos a fio.
Essa ocupação é ilegal, imoral e até “engorda”, parafraseando aqui um cancioneiro brasileiro. Ainda que os referidos ocupantes não precisem indagar aos “seus botões” “o que é certo” ou “o que” devem “fazer”. Carecem, isto sim, ser intimados a deixarem o espaço público, desde que a prefeitura cumpra com sua real função. Função que se amplia à medida que se perceba a importância de diferenciar o público do privado. Isso porque aquele sempre aparece em contraposto ao segundo, ainda que se venha a buscar a clássica distinção entre “ius publicum” e “ius privatum”, transmitidas pelos juristas romanos, ou a “secreto”, em cujo caso tem o significado não de pertencente à “coisa pública” ou ao “Estado”, mas de “manifesto”, mais precisamente de “visível”, conforme recomenda Bobbio.
Visível como deveria ser a administração da coisa pública. O mato que cresce nas praças, nesse sentido, deixa à mostra um governo descuidado e inconsequente, e que contribui com o processo de esconde-esconde dos cenários paisagísticos, os quais deveriam embelezar a cidade, além de realçar os planos e intervenções urbanísticas já realizadas, e que independentemente da sua geografia, revela toda uma trajetória de vida e de política. Ainda que a praça não seja mais do povo, e este, sequer, tem “a rua de seu”, no dizer de Castro Alves. Isso tudo por conta da violência. Não apenas a física, mas também aquela que aparece em forma de lotear o espaço público.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.
Isso, talvez, tenha se dado igualmente no instante em que aumentaram o número de praças. Aumento, contudo, desacompanhado do cuidado com a limpeza e a preservação do ambiente. Em Cuiabá, por exemplo, é comum encontrar vários destes espaços completamente abandonados. Este é o caso, por exemplo, da praça “Alex de Moura Bouret”, no Jardim Petrópolis, que foi toda reformada em 2009. Hoje, porém, inexiste qualquer sinal da tal reforma. Até outro dia, aliás, duas ou três pessoas faziam de um de seus cantos, oposto a Igreja, de dormitório. Fazia porque, dias destes, servidores realizaram uma faxina ali. Removeram o mato e os bagulhos que eram usados de cama. O curioso é que a tal faxina só foi efetuada no dito canto, enquanto o lixo toma conta dos demais, tendo como adorno o matagal que dá para ser visto de longe.
A limpeza iniciada, então, tinha um único propósito. Alcançado, perdeu a necessidade de realizá-la por completa. Por isso, até ontem, o bagulho e folhas secas – retiradas do lugar onde encontravam as pessoas - continuam ali amontoadas.
Entende-se que praça alguma não deva servir de moradia. Mas como, então, explicar e justificar o loteamento delas por parte de quiosques ou boteco de cachorro quente? A praça “Bouret” não é a única nessa situação. Além dela, outras tantas se vêem invadidas por particulares, muitos dos quais se gabam de possuir o aval de políticos influentes, e que, por conta disso, se mantém nas áreas públicas anos a fio.
Essa ocupação é ilegal, imoral e até “engorda”, parafraseando aqui um cancioneiro brasileiro. Ainda que os referidos ocupantes não precisem indagar aos “seus botões” “o que é certo” ou “o que” devem “fazer”. Carecem, isto sim, ser intimados a deixarem o espaço público, desde que a prefeitura cumpra com sua real função. Função que se amplia à medida que se perceba a importância de diferenciar o público do privado. Isso porque aquele sempre aparece em contraposto ao segundo, ainda que se venha a buscar a clássica distinção entre “ius publicum” e “ius privatum”, transmitidas pelos juristas romanos, ou a “secreto”, em cujo caso tem o significado não de pertencente à “coisa pública” ou ao “Estado”, mas de “manifesto”, mais precisamente de “visível”, conforme recomenda Bobbio.
Visível como deveria ser a administração da coisa pública. O mato que cresce nas praças, nesse sentido, deixa à mostra um governo descuidado e inconsequente, e que contribui com o processo de esconde-esconde dos cenários paisagísticos, os quais deveriam embelezar a cidade, além de realçar os planos e intervenções urbanísticas já realizadas, e que independentemente da sua geografia, revela toda uma trajetória de vida e de política. Ainda que a praça não seja mais do povo, e este, sequer, tem “a rua de seu”, no dizer de Castro Alves. Isso tudo por conta da violência. Não apenas a física, mas também aquela que aparece em forma de lotear o espaço público.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.
URL Fonte: https://www.arenapolisnews.com.br/artigo/108/visualizar/
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